Ciúmes: Quando o Medo Fala Mais Alto que o Amor
Publicado por: Psicóloga Fabiana Frade - Atualizado em 20/07/2025

Você já sentiu aquele desconforto no peito ao ver seu parceiro(a) interagindo com outra pessoa? O ciúmes, quando aparece de forma leve, pode até parecer natural. Mas quando começa a dominar os pensamentos, gerar comportamentos controladores ou atrapalhar a confiança no relacionamento, é hora de olhar com mais atenção para esse sentimento. Vamos conversar sobre isso?
O que é o ciúme:
O ciúme não é um transtorno mental, e sim uma emoção natural e complexa, que surge quando percebemos uma possível ameaça, real ou imaginária, de perder alguém ou algo que valorizamos, especialmente nos vínculos afetivos. Ele está relacionado ao medo da rejeição, à insegurança e, muitas vezes, ao desejo de controle.
Em doses leves e ocasionais, o ciúme pode até indicar envolvimento emocional e cuidado. No entanto, quando se torna recorrente, intenso e desproporcional, ele pode gerar grande sofrimento, alimentar comportamentos destrutivos e prejudicar a saúde emocional e os relacionamentos. Em alguns casos, pode ser sintoma de transtornos mais amplos, como o transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos de personalidade ou transtornos delirantes, sendo necessária uma avaliação profissional.
Sintomas e manifestações mais comuns:
● Pensamentos obsessivos sobre traição
● Vigilância constante das redes sociais ou da rotina do parceiro(a)
● Sensação de inadequação ou medo de ser trocado(a)
● Comportamentos controladores (como querer saber onde, com quem e por que)
● Raiva, tristeza ou ansiedade frequentes
● Discussões recorrentes por motivos infundados
● Tentativas de isolar o parceiro(a) de outras pessoas
Diferença entre o esperado e o patológico:
É esperado sentir um pouco de ciúme de tempos em tempos, principalmente diante de situações que realmente envolvam risco ao vínculo afetivo. No entanto, o ciúme se torna patológico quando é desproporcional, constante, irracional e passa a gerar sofrimento para a pessoa e/ou para o outro. Quando o comportamento começa a invadir a liberdade do parceiro, a confiança e a estabilidade emocional do casal estão em risco.
Causas multifatoriais:
O ciúme excessivo geralmente não tem uma única origem. Ele costuma surgir a partir de uma combinação de fatores emocionais, relacionais, familiares e, em alguns casos, neurobiológicos, que se entrelaçam ao longo da história de vida da pessoa. Entre as causas mais comuns, podemos destacar:
● Baixa autoestima e insegurança emocional: Quando a pessoa não reconhece seu próprio valor, é comum que sinta medo constante de ser trocada ou rejeitada.
● Experiências de abandono, traição ou rejeição: Vivências passadas de perdas afetivas ou relacionamentos traumáticos deixam marcas profundas que podem alimentar o medo e a desconfiança.
● Modelos familiares disfuncionais: Padrões aprendidos em famílias com excesso de controle, possessividade, ciúmes ou falta de diálogo saudável tendem a influenciar a forma como a pessoa se relaciona.
● Estilo de apego ansioso ou ambivalente: Pessoas com esse tipo de apego costumam ter mais dificuldade em confiar e tendem a interpretar pequenas atitudes como sinais de ameaça à relação.
● Histórico de relações marcadas por infidelidade: Quem já foi traído ou teve experiências repetidas de deslealdade pode ficar mais vulnerável ao ciúme intenso, mesmo em novos relacionamentos.
● Crenças disfuncionais sobre amor e posse: Ideias como “quem ama tem ciúmes”, “amor de verdade exige exclusividade absoluta” ou “o outro é minha metade” alimentam a idealização e o controle.
● Fatores neuroquímicos e predisposição a transtornos: Em algumas pessoas, o ciúme excessivo pode estar associado a alterações neuroquímicas e estar presente em quadros como transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno delirante ou de personalidade.
Funcionamento neurobiológico e fisiológico:
Do ponto de vista neurobiológico, o ciúme envolve a ativação de regiões cerebrais associadas ao medo, à raiva, à vigilância e à recompensa, como a amígdala, o hipotálamo e o córtex pré-frontal. Quando a pessoa percebe uma ameaça ao vínculo afetivo, ainda que imaginária, o cérebro entra em estado de alerta e libera hormônios como cortisol e adrenalina, preparando o corpo para reagir.
Essas reações podem incluir taquicardia, sudorese, tensão muscular e impulsos de ação impulsiva ou defensiva. Se esse estado de hiperativação se mantém por longos períodos, pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão, comportamentos obsessivos e prejuízos nos vínculos interpessoais.
Impactos na vida pessoal, profissional e nos relacionamentos:
O ciúme excessivo pode comprometer seriamente a qualidade de vida e destruir vínculos afetivos importantes. No campo pessoal, ele mina a autoestima, a autoconfiança e a sensação de segurança interna, fazendo com que a pessoa duvide de si mesma e do próprio valor.
Na vida profissional, o excesso de preocupação com o parceiro(a) pode desviar o foco, afetar a produtividade e gerar sintomas de ansiedade, especialmente quando a mente está constantemente tomada por pensamentos de desconfiança ou comparação.
Nos relacionamentos, o ciúme cria um ambiente de controle, culpa, insegurança e vigilância constante, o que gera desgaste emocional e enfraquece o vínculo. Em vez de aproximar o casal, esse padrão tende a criar distância e tensão.
Além disso, o ciúme pode levar ao isolamento social, à repetição de conflitos intensos e, em casos mais graves, ao desenvolvimento de comportamentos abusivos, violência psicológica ou até física.
Quando buscar ajuda profissional:
Se o ciúme está interferindo na sua qualidade de vida, nos seus relacionamentos ou no seu bem-estar emocional, é hora de considerar o apoio profissional. Quando esse sentimento passa a dominar seus pensamentos, provocar conflitos frequentes ou gerar comportamentos que até você reconhece como excessivos, não ignore os sinais.
A psicoterapia oferece um espaço seguro para compreender as raízes desse sofrimento, desenvolver autoconhecimento e construir formas mais saudáveis de se relacionar. Buscar ajuda não é fraqueza. É um passo corajoso em direção a relações mais leves e equilibradas.
O papel da psicoterapia:
A psicoterapia é um espaço seguro e acolhedor para compreender as raízes do ciúme, desenvolver recursos emocionais e transformar padrões que geram sofrimento. Ao longo do processo, é possível identificar pensamentos distorcidos, fortalecer a autoestima e aprender formas mais saudáveis de construir vínculos baseados na confiança mútua.
Vale reforçar que todas as abordagens psicoterapêuticas são eficazes, e cada pessoa se identifica mais com uma ou algumas delas. O mais importante é encontrar um profissional com quem você se sinta à vontade para iniciar essa jornada de autoconhecimento e transformação.
Quando o ciúme afeta o relacionamento a dois, a terapia de casal pode ser muito útil. Ela promove escuta ativa, empatia, reconexão emocional e construção de acordos mais claros, fortalecendo a parceria e ajudando o casal a se comunicar de forma mais saudável e respeitosa. O ciúme, quando olhado com cuidado e apoio profissional, pode deixar de ser um obstáculo e se transformar em uma oportunidade de crescimento para ambos.
Medicação (quando indicada):
Em alguns casos, especialmente quando o ciúme está relacionado a transtornos como ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão ou quadros com sofrimento psíquico intenso, o uso de medicação pode ser necessário.
Essa indicação deve sempre partir de um(a) médico(a) psiquiatra, que irá avaliar o quadro de forma individualizada, considerando a história de vida, os sintomas e a intensidade do sofrimento.
A combinação entre psicoterapia e, quando necessário, medicação costuma apresentar ótimos resultados no processo de regulação emocional, promovendo mais equilíbrio, bem-estar e qualidade de vida.
É importante reforçar que a automedicação é contraindicada e pode agravar os sintomas. Da mesma forma, interromper o uso da medicação por conta própria, sem orientação médica, também representa riscos à saúde mental e emocional.
Somente um profissional habilitado pode orientar o uso adequado dos medicamentos de forma segura, eficaz e ajustada às necessidades de cada pessoa.
Como familiares e amigos podem apoiar:
O ciúme excessivo costuma ser vivido com muita dor, vergonha e insegurança. Por isso, o apoio de pessoas próximas pode fazer uma grande diferença no processo de recuperação emocional. Algumas atitudes importantes são:
● Evite julgamentos e críticas: frases como “isso é exagero” ou “você está louco(a)” só aumentam a sensação de inadequação. Prefira escutar com empatia.
● Acolha os sentimentos, sem alimentar o comportamento controlador: escutar o sofrimento não significa concordar com atitudes prejudiciais.
● Incentive a busca por ajuda profissional: o ciúme não precisa ser enfrentado sozinho, e o incentivo amoroso à psicoterapia pode abrir caminhos importantes.
● Reforce as qualidades da pessoa: ajudar a pessoa a lembrar do seu valor, de suas conquistas e de sua capacidade de amar com leveza pode fortalecer sua autoestima.
● Esteja presente com escuta e paciência: às vezes, o simples fato de estar disponível para conversar, sem pressa ou julgamento, já traz alívio.
● Se for o(a) parceiro(a), estabeleça limites saudáveis com firmeza e afeto: é possível acolher a dor do outro sem renunciar ao respeito mútuo e da liberdade individual.
Lidar com o ciúme não é sinal de fraqueza. é um ato de coragem. Buscar compreensão sobre seus sentimentos é o primeiro passo para viver relações mais leves, seguras e saudáveis. Você não está sozinho(a) nesse processo.
Se o medo de perder tem falado mais alto no seu relacionamento, talvez seja hora de olhar para isso com mais cuidado. A psicoterapia pode te ajudar a resgatar a confiança em si e no outro.
Vamos conversar?
Se você se identificou com esse texto, saiba que é possível sair desse ciclo. Com acompanhamento psicológico, acolhimento e autoconhecimento, é possível viver com mais leveza, presença e sentido. Não espere chegar ao limite. Cuidar da mente é um ato de amor e coragem. Fale comigo agora no ícone do whatsapp.
Para mais conteúdos sobre saúde mental e relacionamentos, clique aqui para visitar meu Instagram.
Importante: Este artigo tem caráter informativo. Para diagnóstico e tratamento adequados, procure um(a) psicólogo(a) ou psiquiatra. Somente uma avaliação profissional pode indicar o melhor cuidado para sua saúde mental.