Solidão a Dois: Quando Falta Conexão Mesmo com Alguém ao Lado

Publicado por: Psicóloga Fabiana Frade - Atualizado em 31/07/2025

Você já se sentiu sozinho(a) mesmo tendo alguém ao seu lado todos os dias? Já se pegou olhando para o parceiro ou parceira e pensando: “Como posso estar acompanhado(a) e ainda assim me sentir tão distante?”
Essa sensação, embora difícil de nomear, é mais comum do que parece, e tem um nome: solidão subjetiva.

● Ela não depende da ausência física do outro, mas da falta de presença emocional.
● É estar junto, mas não se sentir visto.
● É conversar, mas não se sentir escutado.
● É dividir a rotina, mas não dividir o coração.

Essa solidão silenciosa, muitas vezes invisível aos olhos externos, pode ser tão dolorosa quanto, ou até mais, do que estar só. Ela corrói os vínculos afetivos, enfraquece a intimidade e pode afetar profundamente a saúde mental.

Neste artigo, vamos explorar esse fenômeno que vem aparecendo com frequência nos consultórios e nas pesquisas do Google, refletir sobre suas causas, seus impactos e, acima de tudo, os caminhos possíveis para restaurar a conexão, consigo mesmo(a) e com quem se ama.

O que é solidão subjetiva?

A solidão subjetiva é um estado psicológico caracterizado pela percepção de desconexão emocional, mesmo na presença de outras pessoas.
Diferente da solidão objetiva, que se refere à ausência concreta de companhia, a solidão subjetiva acontece quando o indivíduo não se sente emocionalmente visto, validado ou acolhido, mesmo em contextos de convivência frequente, como em um relacionamento amoroso, vida familiar ou ambiente social.

Ela envolve um vazio relacional que não está vinculado à quantidade de interações, mas à qualidade dos vínculos. Ou seja, a pessoa pode estar cercada de pessoas, inclusive daquelas que ama, e ainda assim experimentar sensações profundas de invisibilidade, abandono afetivo e isolamento interno.

Esse tipo de solidão impacta diretamente a forma como o sujeito percebe a si mesmo, ao outro e à relação.
Pode surgir em relações com baixa intimidade emocional, comunicação superficial, falta de escuta ativa, ausência de validação dos sentimentos ou vínculos marcados por indiferença e distanciamento afetivo.

Na prática clínica, é uma queixa cada vez mais comum, especialmente entre casais de longa data, e entre pessoas que vivem relações funcionais no cotidiano, mas desnutridas emocionalmente. A solidão subjetiva pode ser um marcador importante de sofrimento psíquico e merece atenção especializada.

Sintomas e sinais comuns

A solidão subjetiva, quando vivenciada dentro de uma relação, manifesta-se por meio de uma série de sinais emocionais e comportamentais que indicam sofrimento relacional silencioso. Alguns dos sintomas mais recorrentes incluem:

● Sensação crônica de vazio ou desconexão, mesmo diante da presença física do(a) parceiro(a);
● Conversas restritas a tarefas práticas, com ausência de diálogos íntimos ou troca emocional significativa;
● Falta de validação emocional, escuta empática e gestos de afeto que sustentem o vínculo;
● Autocensura recorrente, com silenciamentos para evitar conflitos, julgamentos ou rejeições;
● Sentimento de invisibilidade afetiva, como se as necessidades emocionais não fossem percebidas ou levadas em consideração;
● Dor psíquica não compartilhada, onde as emoções mais profundas são internalizadas por medo de não serem compreendidas ou acolhidas.

Tais sinais são frequentemente intensificados em relações marcadas por evitamento emocional, escuta seletiva, dificuldades de expressão afetiva ou incapacidade de um ou ambos os parceiros se colocarem em posição de presença emocional verdadeira, ainda que convivam no mesmo ambiente e compartilhem a rotina.

Com o tempo, esse tipo de afastamento pode produzir uma erosão do vínculo conjugal, levando à redução do desejo sexual, aumento de sintomas ansiosos ou depressivos e dificuldades de convivência que extrapolam a esfera emocional, comprometendo também o funcionamento cotidiano do casal.

Quando o esperado dá lugar ao sofrimento psíquico

Nos relacionamentos saudáveis, é natural que ocorram fases de distanciamento emocional. Esses momentos podem ser consequência de fatores como estresse ocupacional, sobrecarga parental, desafios financeiros ou crises existenciais.
Esse afastamento, quando pontual e reconhecido por ambos, faz parte da dinâmica relacional e pode ser ressignificado a partir da escuta e do cuidado mútuo.

No entanto, quando a sensação de solidão subjetiva se torna frequente, persistente e começa a gerar sofrimento emocional significativo, ela deixa de ser uma oscilação esperada e passa a configurar um sinal de alerta clínico.

A ausência crônica de conexão emocional no vínculo conjugal pode contribuir para o surgimento de sintomas como:

● ansiedade generalizada ou crises de pânico
● rebaixamento da autoestima e sentimento de inadequação
● distúrbios do sono e do apetite
● sintomas depressivos ou apatia afetiva
● retraimento social ou desinteresse pela relação

A vivência de abandono emocional, especialmente quando não reconhecida ou validada, pode ser mais dolorosa do que um rompimento declarado, pois mantém a pessoa presa a uma expectativa de reciprocidade que nunca se concretiza.

Do ponto de vista psicológico, esse cenário representa um risco à saúde mental e, quando não acolhido, pode evoluir para quadros clínicos que exigem intervenção especializada.
Por isso, é fundamental compreender que a solidão dentro de uma relação não deve ser normalizada, ela é um marcador importante de sofrimento subjetivo que precisa ser escutado.

Causas mais comuns da solidão dentro dos relacionamentos

A solidão subjetiva no contexto conjugal não surge do dia para a noite. Ela é fruto de um acúmulo de fatores emocionais, comportamentais e relacionais que, quando não identificados e trabalhados, comprometem o vínculo afetivo. Entre as causas mais frequentes observadas na prática clínica, destacam-se:

● Ausência de escuta ativa e tempo de qualidade compartilhado: a rotina, o cansaço e o excesso de estímulos externos reduzem os momentos de presença genuína entre o casal, fazendo com que a convivência se torne automática e desvinculada de afeto.

● Diferenças nos estilos de comunicação emocional: quando um dos parceiros tende a expressar seus sentimentos e o outro evita ou reprime, instala-se uma assimetria no vínculo que compromete a intimidade emocional.

● Uso excessivo de telas e distrações digitais: a presença física acompanhada da ausência emocional, mediada por celulares, redes sociais ou televisão, fragiliza a conexão e impede trocas significativas. Mesmo sem filhos, muitos casais vivem juntos, mas desconectados, cada um imerso em seu celular, trabalho ou distrações tecnológicas, substituindo o contato emocional por estímulos imediatos.

● Sobrecarga com tarefas domésticas, responsabilidades parentais e demandas profissionais: quando a vida do casal gira apenas em torno de obrigações, o espaço para a troca afetiva e o prazer conjugal é sufocado.

● Pressão por desempenho e metas externas: mesmo na ausência de filhos, a vida a dois pode se tornar exclusivamente funcional, com foco em carreira, produtividade, estudos ou projetos paralelos, negligenciando a esfera emocional do relacionamento.

● Desinteresse ou resistência em sustentar diálogos íntimos: o medo da vulnerabilidade, o receio de conflitos ou o hábito de evitar temas sensíveis contribuem para uma relação superficial e distanciada.

● Acúmulo de mágoas não elaboradas: feridas emocionais não nomeadas ou não reparadas vão se acumulando silenciosamente, gerando ressentimento e afastamento afetivo.

● Dificuldade de identificar, regular e comunicar emoções: muitos casais não foram ensinados a expressar seus sentimentos de forma saudável. Isso gera confusão entre o que se sente e o que se comunica, abrindo espaço para ruídos emocionais.

É comum que casais se organizem de maneira funcional, compartilham decisões, dividem tarefas, cuidam dos filhos, mas não se reconhecem mais como parceiros emocionais.
Agem como uma equipe de manutenção da vida prática, mas deixam de investir na vida afetiva. E quando o vínculo deixa de ser nutrido pela escuta, pelo toque, pelo olhar e pela intimidade emocional, a solidão se instala, mesmo com a convivência diária.

Por outro lado, mesmo sem filhos ou grandes responsabilidades familiares, muitos casais entram em um modo automático de convivência, com boa organização externa e até estabilidade aparente, mas sem nutrição afetiva.
Vivem juntos, mas não se percebem. Compartilham a rotina, mas não compartilham a subjetividade. Com o tempo, essa ausência de presença emocional fragiliza o vínculo, e a solidão passa a ocupar um espaço silencioso, porém constante, no dia a dia do casal.

Funcionamento emocional e fisiológico

A solidão subjetiva, especialmente quando crônica, não é apenas uma experiência emocional. Ela tem impactos profundos no corpo e no cérebro, afetando o funcionamento psicofisiológico do indivíduo.

Estudos em neurociência demonstram que o cérebro interpreta o isolamento emocional como uma ameaça à integridade relacional, ativando os mesmos circuitos cerebrais associados à dor física.
A exclusão afetiva ou a ausência de conexão genuína aciona o sistema límbico, especialmente regiões como a amígdala (associada à detecção de ameaças e emoções intensas) e o córtex cingulado anterior (relacionado à dor social).

Do ponto de vista fisiológico, essa percepção de ameaça desencadeia uma resposta de estresse crônico, com elevação nos níveis de cortisol (o hormônio do estresse), queda na oxitocina (relacionada à construção de vínculos) e possível disfunção do sistema nervoso autônomo, afetando a regulação emocional e corporal.

Os efeitos mais comuns desse desequilíbrio incluem:

● alterações de humor (irritabilidade, apatia, ansiedade)
● distúrbios do sono e da alimentação
● queda da imunidade
● sensação de fadiga persistente
● dificuldades de concentração e motivação

A ausência de vínculos afetivos saudáveis também pode levar a um aumento da sensibilidade à dor, piora de quadros clínicos preexistentes e maior vulnerabilidade a transtornos como depressão e ansiedade.

Portanto, a solidão dentro de uma relação não é inofensiva. Quando negligenciada, ela impacta diretamente o bem-estar emocional, cognitivo e físico do indivíduo, exigindo acolhimento e intervenção profissional.

Impactos nos relacionamentos e na saúde mental

A solidão subjetiva vivida dentro de uma relação não impacta apenas o mundo interno do indivíduo, ela reverbera na dinâmica conjugal e, com o tempo, desequilibra a estrutura emocional do relacionamento.

Entre os efeitos mais observados na prática clínica, destacam-se:

● Aumento do ressentimento e da crítica constante: quando um dos parceiros não se sente visto ou acolhido, tende a desenvolver posturas defensivas ou reativas, expressas por críticas frequentes, sarcasmo ou desqualificações emocionais.

● Diminuição do desejo sexual e da intimidade física: a conexão sexual costuma ser diretamente afetada pelo afastamento emocional. A falta de escuta, afeto e segurança subjetiva reduz a disposição para o toque, o envolvimento e o prazer compartilhado.

● Isolamento emocional e social: o sofrimento interno tende a ser silenciado, dificultando não só a partilha com o parceiro, mas também com amigos e familiares. Isso pode gerar um retraimento generalizado e sensação de invisibilidade subjetiva.

● Evitamento do contato visual, toque e diálogo: o corpo e a linguagem expressam o distanciamento afetivo antes mesmo da consciência plena sobre o problema. Casais passam a evitar o olhar, o toque e as conversas significativas, perpetuando o ciclo de afastamento.

● Maior propensão a traições emocionais ou relacionamentos paralelos: em contextos em que a conexão afetiva está comprometida, cresce a busca por validação fora do relacionamento. Essa busca não é necessariamente física, muitas vezes é emocional ou virtual, marcada por confidências e trocas profundas com terceiros.

● Desenvolvimento de quadros de sofrimento psíquico: a solidão afetiva prolongada pode funcionar como fator predisponente ou agravante para transtornos como ansiedade generalizada, depressão, transtornos do sono e crises de identidade.

É importante destacar que a ausência de conexão emocional é uma das principais causas de afastamento conjugal, especialmente em relacionamentos de longa duração. E esse afastamento não acontece, necessariamente, por falta de amor, mas sim por falta de presença afetiva, escuta verdadeira e disponibilidade emocional.

Relações que deixam de cultivar a intimidade emocional se tornam frágeis diante das adversidades, pois perdem seu espaço de nutrição, proteção e crescimento mútuo.

O papel da psicoterapia no enfrentamento da solidão subjetiva

A psicoterapia é um espaço clínico seguro e acolhedor que permite nomear o sofrimento emocional, compreender seus significados e reconstruir formas mais saudáveis de se relacionar consigo mesmo(a) e com o outro.

No contexto da solidão subjetiva, o trabalho terapêutico ajuda a:

● identificar os padrões emocionais e relacionais que sustentam o distanciamento;
● desenvolver habilidades de comunicação e expressão afetiva;
● resgatar o vínculo interno com a própria história, desejos e necessidades;
● refletir sobre os limites da relação atual e as possibilidades de reconexão.

A psicoterapia pode ser realizada de forma individual ou em casal, dependendo da fase do processo e das necessidades de cada envolvido. Em ambos os formatos, o objetivo é ampliar a consciência emocional e fortalecer a capacidade de construir vínculos mais verdadeiros e nutritivos.

Todas as abordagens psicoterapêuticas reconhecidas são valiosas, o mais importante é encontrar um(a) profissional com quem você se sinta à vontade para elaborar sua vivência com profundidade, responsabilidade e escuta ética.

Em alguns casos, quando a solidão subjetiva está associada a quadros clínicos como depressão, transtornos de ansiedade ou crises de pânico, pode haver a necessidade de um cuidado multidisciplinar.
Nessas situações, a psicoterapia pode ser complementada com o uso de medicação, sempre sob orientação de um(a) médico(a) psiquiatra.

A combinação entre acompanhamento psicoterapêutico e tratamento medicamentoso, quando indicada, costuma trazer excelentes resultados, promovendo regulação emocional, melhora dos sintomas e condições mais favoráveis para o processo terapêutico.

É fundamental reforçar que a automedicação é contraindicada. O início, ajuste ou interrupção de qualquer fármaco deve ser feito exclusivamente por um profissional habilitado, com base em avaliação clínica criteriosa.

E se a reconexão não for possível?

Nem todos os relacionamentos conseguem se restabelecer emocionalmente, e reconhecer essa limitação também é parte do processo de amadurecimento afetivo.
Há vínculos que, por diferentes razões, se esgotam afetivamente, se tornam disfuncionais ou deixam de atender às necessidades subjetivas de um ou ambos os parceiros.

Isso não significa fracasso, mas sim a compreensão de que algumas relações cumprem ciclos, e insistir em manter um laço que já não nutre pode gerar ainda mais sofrimento psíquico.

Quando a reconexão emocional não é possível ou não é desejada por uma das partes, a psicoterapia desempenha um papel essencial:

● promove clareza emocional para diferenciar amor, apego e medo;
● ajuda a elaborar lutos relacionais de forma cuidadosa;
● favorece a tomada de decisões conscientes e respeitosas;
● fortalece a autoestima e a reconfiguração da identidade após o término.

Encerrar um relacionamento pode ser doloroso, mas também pode ser um ato de saúde mental, de preservação da integridade emocional e de respeito à própria verdade.
A escuta terapêutica oferece suporte para que esse encerramento não seja marcado por ruptura traumática, mas por lucidez, cuidado e dignidade emocional.

Conclusão

Você não precisa permanecer em uma relação marcada pela ausência de afeto, pela desconexão emocional ou pela falta de escuta.
Estar ao lado de alguém deve significar encontro, presença e partilha, e não solidão emocional disfarçada de convivência.

A permanência em vínculos que não nutrem pode gerar efeitos silenciosos, mas profundos, sobre a saúde mental, a autoestima e a percepção de valor pessoal.
Por isso, reconectar-se consigo mesmo(a) é um passo fundamental, não apenas para entender o que você sente e precisa, mas para construir (ou reconstruir) relações que respeitem sua subjetividade, seus limites e seus desejos mais genuínos.

Em muitos casos, a solidão a dois não representa o fim, mas o sinal de que algo precisa ser olhado com mais profundidade.
E quando esse cuidado começa pela escuta de si, novos caminhos se abrem, com mais autenticidade, presença e sentido.
Seja para fortalecer a relação existente ou para seguir um novo caminho, o reencontro com sua verdade interior será sempre o melhor ponto de partida.

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Importante: Este artigo tem caráter informativo. Para diagnóstico e tratamento adequados, procure um(a) psicólogo(a) ou psiquiatra. Somente uma avaliação profissional pode indicar o melhor cuidado para sua saúde mental.